/ Jun 07, 2025

Atrás de um rói-rói no Cariri – 05/06/2025 – Zeca Camargo

Quando olhei aquele rói-rói, fiquei enfeitiçado. Cheguei ao Cariri cearense em busca de um outro pedaço de madeira, com um peso que se mede em toneladas. Já falo dele. Mas o que eu queria mesmo, descobri, era aquele rói-rói.

Eu tinha um ótimo motivo para estar ali no Crato: havia sido convidado para mergulhar nesse pedaço do Brasil pelo Max Petterson, um poderoso e divertido influencer, com seus mais de um milhão de seguidores.

Max é um fenômeno nordestino, que ecoa por todo o Brasil e pelo mundo, com seu humor e autenticidade. E, numa iniciativa corajosa, ele agora resolveu promover a cultura da região onde nasceu, o Cariri cearense, a mesma que me apresentou ao rói-rói.


A festa de recepção que Max organizou pela área que abrange Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha era nesse espaço nobre. Músicos e artistas desfilaram o melhor da cultura local. E numa das casas do Beato, que reproduz várias tradições dali, vi uma parede de rói-róis.

Peguei um deles na mão e intuitivamente comecei a girar o tamborete que fica na ponta de um cordão e produz um som que lembra o mugido de um boi. Decidi que não ia sair do Cariri sem um.

Procurei por todo lado. Ao chegar a Nova Olinda para visitar o mestre Espedito Seleiro, já estava de olho. A graciosidade desse artesão de 85 anos, cujo pai confeccionou sandálias para Lampião, me fez esquecer temporariamente a minha busca.

Sua arte hoje enfeita desde poltronas dos irmãos Campana até a mochila com a qual saí de lá: curvas coloridas que evocam a elegância do cangaço. Saí de lá em estado de graça, mas sem meu rói-rói.

Aí foi a vez de visitar Padre Cícero. A subida no suave e moderno teleférico do Horto nos levou ao topo do morro, onde fomos recebidos com tiros estrondosos: eram os Bacamartes da Paz que nos recebiam com danças e alegria.

No trajeto dos romeiros, visitamos a casa de Padim, como o provável futuro santo é carinhosamente chamado, e sua estátua, que joga uma afetuosa sombra de proteção pela cidade. Se tinha rói-rói nas lojinhas de souvenir, não vi.

Passei pela fantástica Lira Nordestina, onde artistas como José Lorenço mantêm viva a tradição da xilogravura. Saí de lá com a incrível matriz de uma delas, uma série que ele fez sobre os Novos Baianos. Mas sem meu rói-rói.

Finalmente, na grande festa do Pau de Santo Antônio, em Barbalha, achei que iria encontrar meu brinquedo. Mas as barracas e lojas espalhadas pela cidade só vendiam quitutes. Quase entristeci, mas quando vi o pau chegar…

O trocadilho é proposital, uma piada que todos fazem com a enorme tora levada nos ombros por centenas de homens até o centro de Barbalha. O espetáculo de vê-la chegando, como uma entidade viva num dossel, é algo inesquecível.

O ciclo de jogá-la no chão, pular, sentar nela e levantá-la de novo para seguir por mais alguns metros é quase tribal. E é impossível não se emocionar com a força desse ritual.

Que foi uma bela despedida para essa visita ao Cariri. Se você ainda não foi, eu digo, vá!. E, se você tiver mais sorte do que eu, traga de lá um rói-rói para mim.


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