Quando você compra uma geladeira, provavelmente se atenta àquela etiqueta colada na porta que indica o consumo de energia do aparelho. E se essa mesma lógica pudesse valer também para os imóveis? O Brasil está prestes a dar um passo decisivo nessa direção.
A proposta em discussão é criar regras claras para que edificações —casas, prédios comerciais e públicos— passem a contar com uma classificação de eficiência energética. A ideia é simples, mas poderosa: informar o quanto o imóvel poupa ou desperdiça energia. É um avanço que une transparência, economia e sustentabilidade —e que está em consulta pública.
A economia energética pode chegar a 40% nas residências brasileiras. Uma conta grande para o consumidor, mas que não é só ele quem paga. Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), cerca de 10% do consumo de eletricidade no mundo ocorre para resfriar ambientes.
No Brasil, a UFRJ aponta que a fatia chega a 14% —e só tende a aumentar com os recordes de temperatura. Uma conta pesada para um planeta em que aproximadamente 60% da eletricidade consumida ainda vem de fontes poluidoras (IEA), agravando a emergência climática.
Eficiência como direito —e como oportunidade
A energia que um imóvel consome não depende apenas do comportamento de quem vive ou trabalha ali. O projeto e a qualidade dos materiais empregados na construção também são decisivos. Paredes mal isoladas, janelas de baixa qualidade ou projetos que ignoram a ventilação e luz natural podem gerar custos extras por toda a vida útil do edifício.
Por isso, dar visibilidade à eficiência energética é, também, respeitar o direito à informação —permitir que o consumidor faça boas escolhas. Ao mesmo tempo, cria-se um incentivo real para o uso de melhores materiais e tecnologias —algo que pode valorizar imóveis e movimentar setores da construção civil e da indústria de soluções sustentáveis.
O que muda na prática: etiquetas para edificações
A proposta segue os moldes do Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE), já conhecido por classificar eletrodomésticos de A (mais eficiente) a E (menos eficiente). Atualmente, essa lógica se estende aos imóveis, mas de forma voluntária.
A ideia é que passe a ser aplicada em todas as edificações, com um cronograma de implementação gradual e atendendo a índices mínimos de eficiência —inicialmente por autodeclaração técnica e, posteriormente, mediante avaliação documental e de desempenho.
A consulta pública é agora —e todos têm voz
Essa mudança ainda está em construção. A minuta da resolução está aberta à consulta pública até 5 de julho de 2025, e é neste momento que consumidores, empresas e gestores podem influenciar o futuro da política energética brasileira.
A medida é também vista como grande oportunidade de alavancar o Brasil para um mercado —produtor e consumidor— de uma economia de baixo carbono, um futuro inevitável.
Se demorarmos a aderir, perderemos oportunidades de lucrar com a transformação —no mercado interno e exportando tecnologia e serviços.
Estamos diante de uma chance concreta de moldar um mercado mais transparente, eficiente e sustentável —onde cada parede, janela e telhado serão parte do planeta que precisamos construir.