Um adesivo na porta de um bar no bairro da Cidade Baixa, em Porto Alegre, mostra até onde a água subiu, mais de um metro acima do chão, um dos muitos lugares destruídos pelas enchentes na cidade no ano passado. É uma lembrança que fica, mas aos poucos vai se ofuscando diante da reconstrução.
A capital gaúcha parece disposta a mostrar que se recuperou —e seus restaurantes, bares e cafés, de volta à forma, são uma prova disso.
Por volta das 20h de uma sexta-feira, a garçonete avisa que vai demorar a sair uma mesa no Brado, restaurante da moda no bairro de Bom Fim. Mas, sorrindo, ela já adianta que é possível ir pedindo algumas das entradas e também uma garrafa de vinho da seleção da casa, todos orgânicos e de produtores do Rio Grande do Sul mesmo. Já dentro do restaurante, vale pedir a picanha de cordeiro com molho muhammara (R$ 86). É excelente.
Se a noite estiver para mais alguma ou algumas taças de vinho, compensa andar poucas quadras e ir até o Zanza, uma mistura clássica de bar e restaurante. A casa tem uma enorme área externa debaixo das árvores onde a maioria dos frequentadores prefere ficar num dia de calor.
As taças de vinho costumam variar de acordo com o dia e custam em média R$ 32. Se estiver na vibe dos coquetéis, o Zanza também tem uma extensa carta que inclui drinques autorais como o Rabo de Galo Zanza (R$ 28), feito com cachaça infusionada em cumaru, vermute da casa e Cynar, e o Negroni Jerez (R$ 34), que acrescenta jerez à receita do clássico.
Coquetelaria, aliás, costuma ser um ponto fraco em qualquer cidade. O excesso de drinques extremamente doces, com adornos escalafobéticos e uma imensa mistura de ingredientes num mesmo copo pode até fazer sucesso comercial, mas tende a afastar quem aprecia um bom coquetel.
Evitando essa moda e buscando qualidade, compensa conhecer o Olivos 657, bar com quase 15 anos no bairro de Cidade Baixa. O lugar é decorado com diversas dessas quinquilharias de feiras de antiguidades, desde bonecos meio macabros até tradicionais cartazes de época, tudo junto e misturado.
Tem seu charme. Dentre as opções da carta vale pedir um tradicional Bitter Giuseppe (R$ 34), à base de Cynar, vermute tinto, limão e bitter de laranja, ou o Fanciulli (R$ 44), feito com bourbon, vermute tinto e fernet. O bar é comandado por Fred Muller, e o sucesso no ramo também rendeu um convite para assinar os drinques do Capincho, famoso restaurante no bairro Moinhos de Vento.
Ali, Muller criou drinques como o Caldo de Rua (R$ 40), que leva cachaça, caldo de cana com gengibre e limão. O coquetel é clarificado com leite e chega quase transparente no copo dos clientes, da mesma forma que o Figo Fashion (R$ 44), mistura de bourbon, licor de folha de figo, xarope da mesma fruta e angostura.
Os drinques chamam a atenção, mas a fama do restaurante vem em grande parte do preparo de suas carnes vermelhas, em especial uma costela assada por cerca de 16 horas antes de ser servida. A tal costela (R$ 189) é o carro chefe. Chega à mesa coberta por algumas folhas de orégano fresco e molho de carne, acompanhada de salada de folhas de aipo com abóbora e queijo feta.
A casa ainda mantém um regime de sazonalidade para suas entradas que incluem uma empanada de siri e milho com molho de tomate fresco (R$ 57), um biscoito à base de polenta coberto com camarão, creme de milho e botarga de tramandaí (R$ 63) e um tartare de contra-filé, morango, queijo, emulsão de manjericão e macadâmia (R$ 66). É de bom tom pedir duas ou três para dividir antes de pedir o principal, mas não desperdice a chance de comer a tal costela do Capincho.
Fugindo da tradição da carne vermelha, Porto Alegre tem ótimos restaurantes como o Nuh, do chef Eduardo Sehn, no bairro Floresta, uma cozinha com referências asiáticas. Dentre as entradas se destaca o Mushrooms Feast (R$ 78), diferentes tipos de cogumelos servidos numa chapa quente com molho da casa, e entre os principais não saia sem provar a Moqueca Asian Style (R$ 168), uma versão de Sehn para esse ensopado de peixe.
Próximo ao Nuh, agora no bairro do Rio Branco, o Mizu, é uma boa opção para quem procura comida japonesa. Os peixes e cortes seguem os tradicionais dos restaurantes desse ramo –um combinado sai por R$ 169— e compensa experimentar entradas como o Gyoza Surf and Turf (R$ 50), recheado com barriga de porco, salmão defumado e berinjela crocante.
Se os exageros na comida exigirem um cafezinho, desça até o centro histórico para o Síndico Torra e Café, um desses lugares que deixam na dúvida se tudo foi reformado para parecer antigo ou se mantiveram o local do jeito que ele sempre foi. A visita vale pelo café, pelo ambiente e pela eventual foto para postar depois. Uma vez no Síndico, ainda na mesma quadra, a livraria Baleia vale também uma parada, é logo ali ao lado.
Seguindo pelo mesmo bairro, não há vergonha em se render a um clichê turístico, a Casa de Cultura Mario Quintana. O destino bastante conhecido tem um café, também bastante conhecido em sua cobertura, o Lola Bar CCMQ. Um expresso custa R$ 8, e uma taça de sangria, R$ 37. Abrace seu lado turista e fique até o pôr do sol —a vista do lugar vale a pena.
Brado
R. Bento Figueiredo, 78 – Bom Fim
Zanza
R. Vasco da Gama, 270 – Bom Fim
Olivos 657
R. da República, 657 – Cidade Baixa
Capincho
Praça Dr. Maurício Cardoso, 61 – 2 – Moinhos de Vento
NUH Asian Food
Av. Cristóvão Colombo, 901 – Floresta, Porto Alegre – RS
Mizu
R Anita Garibaldi, 1865 – Boa Vista
Síndico Torra e Café
R. dos Andradas, 419 – Centro Histórico
Livraria Baleia
R. dos Andradas, 351 – Centro Histórico
Lola Bar CCMQ
Casa de Cultura Mario Quintana – R. dos Andradas, 736 – 7º andar – Centro Histórico