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Tarifa de 50% de Trump obriga Brasil a vender aço barato – 04/06/2025 – Mercado

O aumento das tarifas dos EUA sobre aço e alumínio que chegam ao país pode obrigar as siderúrgicas brasileiras a venderem seus produtos ainda mais barato no mercado americano. Nesta quarta-feira (4), entrou em vigor decreto de Donald Trump, fixando as taxas a 50%, o dobro dos 25% determinados desde março.

Em maio, o CEO da ArcelorMittal Brasil, Jorge Oliveira, disse à Folha que as tarifas de 25% haviam obrigado a empresa a vender suas placas de aço (produto semiacabado) entre 5% e 7% mais barato, justamente para atender o mercado americano e conseguir competir com siderúrgicas do sudeste asiático, que em alguns casos conseguem ter preços mais competitivos que as brasileiras.

Antes das tarifas de Trump, o Brasil recebia trato diferente no mercado americano. Até então, as siderúrgicas brasileiras podiam vender 3,5 milhões de toneladas de aço semiacabado para os EUA sem pagar tarifas —restabelecer cotas mínimas é uma das tentativas do governo brasileiro para contornar os prejuízos das tarifas americanas. Agora qualquer quantidade de aço que entra no país é taxada em 25%. Isso coloca as empresas brasileiras de igual para igual com as de outros países.

O produto semiacabado representa 87% de todo o aço brasileiro consumido pelos americanos. Os maiores exportadores desse material são a ArcelorMittal, que envia placas para sua usina no Alabama, e a Ternium. Essa última, no entanto, exporta placas para sua usina no México, que as processa e envia o produto final aos EUA –por isso, suas exportações não são contabilizadas pelo governo americano como de origem brasileira.

Dados da Fast Markets apontam que o preço da placa de aço exportada pelo Brasil chegou a ter queda de quase 20% no início de março, quando as tarifas de 25% entraram em vigor. Desde então, quedas no preço foram registradas seguidamente, ainda que em menor intensidade. A queda, no entanto, não fez com que o valor pago pelos americanos diminuísse em relação a antes das tarifas, já que eles precisam arcar com taxas altas sobre o produto.

A quantidade de aço semiacabado brasileiro que chegou aos EUA também não teve enormes variações. Em fevereiro, por exemplo, os americanos importaram 381 mil toneladas de placas do Brasil. Já em abril e maio foram 304 mil e 268 mil toneladas, respectivamente – os dois meses consideram licenças de importação e não quanto, de fato, chegou aos EUA.

A explicação para a variação menos intensa passa pelo perfil de produção de aço pelas siderúrgicas dos EUA. Os americanos fabricam sobretudo produtos acabados que alimentam indústrias manufatureiras e de construção e, para isso, dependem de placas de aço importadas de outros países, principalmente do Brasil, o maior fornecedor desse tipo de produto ao mercado americano. A usina da ArcelorMittal no Alabama, aliás, é uma das maiores importadoras de aço dos EUA.

Isso explica também o poder de negociação que as siderúrgicas brasileiras têm com seus clientes, ainda que sejam do mesmo grupo. “Se a tarifa tornar a venda para os EUA inviável, o problema dos EUA fica pior ainda, porque eles não têm placa”, afirma Carlos Jorge Loureiro, presidente do Inda (Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço).”Eles compram a placa porque não tem alternativa nos EUA, já que não existe sobra de placa lá. Ou eles compram uma placa pagando 50% ou eles param de produzir”, acrescenta.

Artur Bontempo, analista principal de minério de ferro e aço da Wood Mackenzie pensa semelhante. “Tais tarifas tendem a ter efeito negativo para o mercado americano, tendendo a gerar efeitos inflacionários e perda de competitividade dos parceiros, já que os EUA importam cerca de um quarto do aço consumido”, diz. “Mas a mensagem política de Trump foi dada; agora, o impacto real dependerá da resposta da indústria americana, que sabe que sua competitividade não pode se sustentar exclusivamente com base em proteção tarifária.”

Fato é que se o preço final das placas, incluindo as tarifas, inviabilizar a compra em escala por parte dos americanos, as siderúrgicas instaladas no Brasil devem ser afetadas. Especialistas apontam que o mercado brasileiro não tem condições de absorver a produção hoje exportada. A ArcelorMittal, por exemplo, exporta quase toda a sua produção de placas no Ceará, onde a usina emprega quase 6.000 pessoas. O mesmo acontece com a usina da Ternium, no Rio de Janeiro.

Um profissional que acompanha o tema de perto disse à Folha que reduzir a produção exigiria o desligamento de alto-fornos, o que também é custoso para as empresas. Até por isso, é incerto até quanto as siderúrgicas brasileiras conseguiriam segurar a queda do preço das placas. Procuradas, ArcelorMittal e Ternium não quiseram se pronunciar.

No governo brasileiro, a estratégia segue a mesma de quando as tarifas eram de 25%: negociar cotas de exportação junto à Casa Branca. A visão do governo é que caso os EUA diminuam suas importações eles estarão prejudicando seu próprio mercado, já que é improvável que os americanos consigam criar uma estrutura de produção de aço semiacabado com a velocidade necessária para compensar a perda com uma eventual queda de importações.

Além disso, o Reino Unido, único país não afetado pela tarifa de 50%, não tem produção suficiente para escoar placas nos EUA no curto prazo. Em dezembro, o mês em que exportaram maior quantidade de placas para os EUA, o total não chegou nem a mil toneladas

Por outro lado, o governo tem registrado queda considerável na quantidade de aço acabado vendido para os EUA, justamente por ser um produto hoje em estoque no mercado americano.

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